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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Ela vai ser mais uma. Eu serei mais um, você será mais um e todos os outros serão outros pontos adicionais. Vai ser um acréscimo desnecessário, você ainda vai desencadear milhares de problemas e também vai se lamentar diversas outras vezes. Ela ainda vai reclamar da vida, ele vai bater o carro e o outro vai ser recusado em um pedido de namoro. Eu entrarei na vida de diversas pessoas, porém serei um infiltrado e indesejado, e praticamente ninguém irá entrar na minha. Ela ainda vai borrar seu rímel por causa de um cara qualquer — que é só mais um como eu — e vai se prometer de nunca mais se apaixonar. Nós ainda iremos criar expectativas, e perceberemos que nunca ficaremos juntos, porque nosso amor será maior que a presença. Meu vizinho ainda vai perder as chaves da casa, vai terminar com sua mulher e se embriagará pelo desgosto. Meus pais morrerão um dia, seu irmão vai mentir pra você e sua tia te fará passar vergonha. Ela vai chorar novamente por causa de outro otário de apenas uma noite, porque ela acha que pelo sorriso se enxergam décadas. Os outros vão chorar, gritar, espernear e outras coisas relacionadas à dor. E se ela encontrar-se comigo, não dará certo por conta da distância infiel. Meu amigo vai me enganar, meu outro amigo me passará a perna e meu professor irá faltar aula. Ela vai acreditar novamente no amor eterno, vai quebrar a cara e irá beber. Minha mulher terá filhos e logo após iremos nos divorciar. O síndico do meu condomínio vai discutir comigo, eu irei xingá-lo e talvez serei expulso do local de habitação. Vou levar uma multa de carro, vou arrumar outra namorada e me ferrar novamente. Conhecerei mais alguns amigos na faculdade, e irei me lembrar dela por causa de uma música do colegial. Minha irmã vai brigar com meus pais porque quer ir morar com o namorado, depois vai perder a virgindade e ele vai sumir. Ela vai gritar de arrependimento e pedir perdão aos nossos pais. Meu amigo que conheci pela internet vai tentar se suicidar porque sofre bullying, vai pedir os meus conselhos e depois terminar de ler um livro. Eu ainda vou tirar outras dezenas — milhares, talvez — de fotos e não irei gostar nem da metade. Serei cobrado por dinheiros das antigas, vou vomitar quando estiver embriagado e conhecerei uma vagabunda em um boteco qualquer. Afinal, eu sou só mais um. Meu vizinho, é só mais um, ela, é outra. Meus colegas também são outros adicionais e meus pais outros. Todos nós formamos os outros, basta quem ter esse ponto de vista. Minha futura namorada ainda não me conhece, por isso sou um outro alguém pra ela. Mas nem por isso eu deixo de ser mais um. Eu posso ser mais um irritante, mais um falso ou mais um hipócrita, como também posso ser mais um herói, mais um noivo ou mais um batalhador. Você é um outro alguém pra mim, você não muda nada na minha vida. Mas nem por isso perde sua importância. Somos só mais um entre bilhões, e futuramente trilhões. Somos nós, os outros, que erramos toda hora, que formamos essa bizarra sociedade. E ainda erraremos, formaremos mais outros que também serão outros adicionais. E que nem por isso eu deixo de me importar, porque ela também era só mais uma, mas nem por isso deixou de marcar na minha velha e pacata história.

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